sexta-feira, novembro 07, 2008

o que você vai ser quando crescer ?

Durante a nossa infância provavelmente ouvimos essa pergunta inúmeras vezes. Minhas respostas :
- Professora.
- Aeromoça.
- Mulher Maravilha.
- Atriz de novelas.
- Médica.
- Biológa Marinha.

Minha mãe está com câncer. Câncer de vesícula biliar. Seria simples se fosse descoberto há alguns anos atrás. Era só retirar a vesícula. Ela sempre achou que seu problema fosse uma simples enxaqueca e também nas consultas médicas nunca se desconfiou ou houve curiosidade para se aprofundar no assunto.
Ela passou mal no início do ano e na emergência, a médica que a atendeu diagnosticou de primeira que ela estava tendo uma crise de vesícula e a encaminhou para a cirurgia. Infelizmente já era tarde. A vesícula segundo termos médicos estava "congelada" e colada a outros órgãos e então não seria possível a retirada pois haveria o risco dela morrer na cirurgia ou diminuir a "sobre vida" como eles chamam.
O resultado veio no dia da alta, os médicos se reunem para conversar com os parentes dos pacientes e informar o estado de saúde de cada um deles. Entrei na sala, crente que minha mãe iria ter alta e eu receberia recomendações médicas a respeito de alimentação para ela. Mas, não foi assim. A médica, uma jovem médica, começou falando sobre o estado da vesícula da minha mãe, que não foi retirada e que havia também encontrado algumas metástases no fígado dela. E que eles tinham feito uma biópsia para saber exatamente de onde estava vindo o problema. Quando ouvi a palavra - metástase - repeti duas vezes olhando para a médica e fiz sinal de que tinha entendido. Na verdade passei o dia tentando entender e repetindo a palavra. A sensação é de que uma bomba estourou na sua frente e você fica olhando para o buraco para entender ou perceber o que está se passando. A partir desse momento não sabia o que fazer, tinha que contar para minha mãe, tinha que contar para minha irmã e para o restante da família mas não queria alarmar todos. Conversei apenas com minha irmã e com meu tio (irmão da minha mãe) que me orientou a aguardar o resultado da biópsia e não entrar em desespero. O resultado só ficou pronto 40 dias depois . Minha mãe sabia que tinha feito uma biópsia pois os médicos falaram com ela mas não deram a notícia do câncer.
No dia do resultado eu e minha irmã não estávamos em casa, e um amigo nosso que trabalha no hospital onde minha mãe fez a cirurgia trouxe o resultado e entregou para Mammy. Ela abriu e tomou um baita susto, é claro. Diagnóstico : Adenocarcinoma para fígado. Disse que tremeu dos pés a cabeça pois perdemos uma tia nossa há 1 ano com câncer na bexiga (nenhuma relação com o dela) e sabia o significado do nome mas teve uma reação que nós não esperávamos. Reagiu como se pudesse lutar contra aquilo e seguiu em frente vivendo normal até o dia de hoje.
Já fazem dois meses que ela começou a passar mal e segundo seu médico a doença está vencendo seu organismo. Com essa situação, minha irmã e eu temos nos revesado para cuidar dela. Está muito fraca, perdeu muitos quilos e só toma líquidos.
Bom, você já deve estar se perguntando o que tem o assunto do início com toda esse texto imenso sobre uma doença tão desagradável. Eu vou te contar.
Minha mãe é uma mulher de 56 anos, que tem uma família grande, e que sempre cuidou de todos e fazia mais de duas coisas ao mesmo tempo. Pode acreditar. Não sei como ela conseguia esse feito maravilhoso porque eu não dou conta direito da minha casa, faço tudo aos poucos. Minha mãe era, infelizmente era, digamos que uma mulher desenfreada, ligada no 220 watts como brincávamos em casa. Cuidava de casa dela, da casa do meu avô e ainda cuidava das roupas do meu tio (ela fazia isso desde os 18 anos dele quando estava no quartel).
Minha mãe sempre ajudou as pessoas. Nunca esperou nada de ninguém. Ajudou a educar os sobrinhos, os netos. ahh, os netos. São sua paixão. Minha irmã deu a ela, dois lindos netos. Eu, ainda não sou mãe, estava planejando mas com esse susto preferir aguardar um pouco.

Minha mãe não é perfeita, é claro. Afinal quem é ? Também não tenho como contar toda sua vida aqui mas posso afirmar que ela sempre foi uma mulher de fibra, sempre trabalhou muito, ajudou muito e tinha prazer em fazer isso.

Eu tenho 34 anos e quando alguém me perguntar o que eu quero ser quando crescer, já tenho minha resposta. Quando eu crescer, quero ser como a minha mãe. Uma mulher dedicada, que ajudou os outros sem esperar receber algo em troca.









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